quarta-feira, 20 de maio de 2020

Aridel, os blues do deserto

Os Aridel (que significa leão em Tamaxeque ou, se preferirem, tuareg) é uma banda original da Argélia cujo resultado é maior do que a soma das partes. Isto é, as diferentes influências de cada um dos seus quatro membros resulta num produto final sóbrio e equilibrado mas que é ao mesmo tempo uma novidade na música do deserto do Saara.



Talvez por isso o seu primeiro álbum," Rahet Bali" lançado em 2011 e no qual constam dez canções, tenha esgotado apesar da sua promoção mediática ter sido praticaente zero. Lemouima, por exemplo, onde os blues do Saara servem de almofada perfeita a duas vozes masculinas de grande contraste, tornou-se talvez o tema que eu ouvi mais vezes seguidas na minha vida. Pela emoção.

Hichem Djama, guitarrista solista do projecto, define Rahet Bali como a linha filosófica que o grupo quer para o futuro: autenticidade, modernidade e sobriedade. O som navega entre os blues tuaregues, os ritmos tradicionais e o indie pop ocidental. Tal vem das diferentes tendências de cada membro.

Se é verdade que Aridel ainda não conseguiu impôr o seu trabalho no mercado como o conseguiram outras bandas da região, como os Tinariwen ou os Etran Finatawa, é mais verdade ainda que o grupo tem vivido apenas por si. Praticamente  não passa nos media e mesmo a sua presença na internet é promovida apenas pelos próprios.

Fayçal Softa toca violão tuaregue,  Lamine Bachtoudji (segunda voz) escreve a maioria dos textos e também empresta sons "oud" com vários instrumentos africanos, Hamza Deramchi é responsável pelo baixo e pela sonoridade jazz do projeto.


Entre o primeiro e o segundo álbum há sete anos de diferença. Ficamos ansiosamente à espera do próximo

discografia até ao momento: 

Rahet Bali (2011)
Salami (2018)

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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Ros Sothea, da terra sangrenta

A maioria dos músicos do Camboja dos anos 60, 70 e 80 do século XX desapareceu entre os dois milhões massacrados por Pol Pot. Ros Serey Sothea foi apenas mais uma entre eles, mas ainda ainda a sua memória não é apenas mais uma entre muitos.


Ros Sothea nasceu em 1948 em Battambang, Cambodja, a segunda mais nova de cinco filhos numa família pobre. Durante a sua infância e adolescência apenas demonstrou o seu talento como cantora aos seus amigos e foram esses amigos que a convenceram a participar num concurso regional de canto em 1963, que veio a vencer e que foi a sua rampa de lançamento para uma brilhante carreira. Primeiro cantou em alguns restaurantes e bandas menores, mas acredita-se que Im Song Seurm, uma cantora ao serviço da Rádio Nacional, a tenha convidado para viajar para Phnom Penh, a capital, em 1967.

Foi na capital, cantando na Rádio nacional, que se tornou uma estrela nacional no Cambodja, tanto em duetos com os músicos mais famosos da sua geração e também  mantendo uma carreira a solo. As gravações que nos deixou mostram uma mistura entre o que parece a canção nacional Cambodjana e alguma influência americana a partir de certa altura, provavelmente pela presença de tropas do Tio Sam no Vietname.


Sabe-se que Ros Serey Sothea desapareceu durante o genocídio do Khmer Vermelho, mas o seu destino exato nunca foi confirmado. A sua influência americana terá sido, no entanto, a causa do seu fim e o principal motivo da perseguição do regime comunista.

A versão mais comum é que ela trabalhou até a morte num campo de trabalhos forçados, embora uma das suas duas irmãs sobreviventes ao regime, entrevistada por John Pirozzi em Battambang, tenha afirmado que ela foi vista num hospital de Phnom Penh, desnutrida, e que terá morrido ali semanas antes da queda de Pol Pot.


quinta-feira, 7 de maio de 2020

Romica Puceanu, o Amor perdido duma cigana

Romica Puceanu, que se lê Romika Puchanu foi uma cantora cigana romena e intérprete de música urbana cigana da Romênia. Nasceu em 1926 e partiu do terceiro planeta a contar do Sol em 1996, devido a um acidente de viação. A sua voz permitiu-lhe começar a cantar profissionalmente aos 14 anos de idade, o que fez durante todo o resto da sua vida.


Ganhou bastante notoriedade como cantora e foi sempre muito admirada por aqueles que a conheciam enquanto artista, mas ainda assim nunca foi reconhecida pelo próprio país. A política estatal romena em vigor durante a maior parte dos anos em que Romica esteve ativa, dificultou a exportação da música romena, especialmente dos ciganos, para o exterior. 
Ainda assim, nas décadas de 1960 e 1970, graças à sua voz requintada e de grande profundidade, foi a mais famosa cantora Lăutari, uma forma de música cigana romena em fusão com alguma música turca.

A sua vida ficou marcada ainda por uma relação amorosa infeliz, num casamento com o acordeonista Bebe Şerban, o que a levou a ter alguns problemas com a bebida, o que por sua vez acabou por afetar  sua voz nos últimos anos da sua carreira.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Dubioza Kolektiv, o rock anti extrema-direita

Os Dubioza Kolektiv, apenas Dubioza para os amigos, tocam música rock alternando influências hip hop, dub, ska, reggae, rock e algum punk, mas sempre com um som marcadamente balcânico. Oriundos da Bósnia e Herzegovina são um projeto assumidamente político e nesse sentido tentam ser o mais universais possível, cantando assim em diversas línguas.


Formaram-se no ano de 2003 a partir de duas bandas então existentes, os Ornament e os Gluho Doba, mas o princípio da sua vida não foi fácil. Perderam a sua primeira vocalista, Adisa Zvekić, para um projeto a solo.
O estilo musical eclético do grupo foi assim produto das diferentes influências e origens musicais dos restantes membros, que começaram por ser quatro mas atualmente são sete. A saber:  Almir Hasanbegović, Adis Zvekić, Brano Jakubović, Vedran Mujagić, Mario Ševarac, Senad Šuta e Jernej Šavel. O ponto mais forte em comum é combaterem os movimentos de extrema direita nos Balcãs.
De realçar que todos os álbuns dos Dubioza são disponibilizados pela banda gratuitamente na internet, bastanto para tal aceder ao site oficial. o link está a seguir.


discografia até ao momento: 

Dubioza kolektiv (2004)
Dubnamite (2006)
Unpopular singles (Compilation CD) (2007)
Firma Ilegal (2008)
5 do 12 (2010)
Wild Wild East (2011)
Apsurdistan (2013)
Happy Machine (2015)
Pjesmice za djecu i odrasle (2017)
Live Pol’and’Rock 2018 (CD / DVD) (2019)
#fakenews (2020)

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sábado, 2 de maio de 2020

Sana Moussa - Da Resistência na Palestina


As músicas de Sana Moussa, palestiniana, são uma homenagem permanente às mulheres do seu "país", assim propositadamente colocado entre aspas, e uma celebração da música tradicional que sobrevive à ocupação dos seus territórios por Israel desde o pós Segunda Guerra Mundial.
Nasceu no seio duma família ligada à música na zona da Galileia, e cedo desenvolveu uma paixão pelo som tradicional palestiniano.


O primeiro álbum de Moussa, Ishraq Reminiscence, foi lançado em 2010 e permitiu-lhe viajar em digressão pela Palestina, Jordânia e Cairo antes de se mudar para Londres, onde estuda atualmente  Microbiologia.
Já em 2016 lançou um segundo disco, Hajess, em que Sanaa Moussa perpetua a sua homenagem às mulheres palestinas e e ao seu folclore. As músicas abrangem ritmos para adormecer cantadas pelas mulheres de sua terra, a alegria, a separação, o amor, a guerra, o casamento e o nascimento.


discografia até ao momento:
2010 Ishraq Reminiscence
2016 Hajess

contribuições
2014 The Rough Guide to the Music of Palestine

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sexta-feira, 1 de maio de 2020

Emel Mathlouthi - As Músicas da Revolução

Conheci a Emel Mathlouthi um pouco por sorte. Estava a ler sobre a o movimento político da Primavera Árabe, que na Tunísia se chamou  Revolução de Jasmim, para ver se percebia um pouco melhor o que se passava por ali e acabei por ir parar a um pequeno texto sobre ela. Já não me lembro em que site isso aconteceu, mas lembro-me que não li mais nessa noite. Até adormecer fiquei a ouvir a voz dela com a sensação que me tinha apaixonado há pouco tempo.
canção chamava-se  "Kelmti Horra" ("A minha Palavra é Livre") e era da Emel Mathlouthi e veio a tornar-se o hino dessa revolução. Reconheci-a depois, já no ano de 2015, a cantar a mesma canção na Cerimónia dos Prémio Nobel.

 
Se é verdade que a Revolução cresceu a partir das más condições de vida das populações do norte de África até ao Médio oriente, é ainda mais verdade que aquela música me conseguia causar emoções mesmo sem que eu pudesse entender a letra. Essas emoções abrangiam um estado de Violência e de Paz simultaneamente. de certa forma, era a resposta que eu considerava perfeita para um período tão conturbado.
A Emel nasceu na Tunísia, mais concretamente em Tunes, a 11 de Janeiro de 1982. Começou a sua carreira com uma guitarra e tão cedo como começou a cantar tão cedo começou a ser censurada no seu próprio país. O seu primeiro álbum, que saiu em 2012, só foi possível graças aos eventos da revolução que permitiram que a sua música transpusesse a fronteira tunisina.
A guitarra elétrica minimalista é o principal instrumento, quase o único, que entra no seu trabalho, já que a sua voz sedutora e envolvente é capaz de viver praticamente só. Há algum experimentalismo na sua música e é permanente a sensação de que estamos a num campo de batalha a aproveitar os últimos momentos de paz.


discografia até ao momento: 2012 Kelmti Horra
2017 Ensen
2018 Ensenity (Reworks Album)
2019 Everywhere We Looked Was Burning

contribuições
2013 The Rough Guide To Arabic Revolution (World Music Network)
2016 "Now Indie Arabia" (Universal Music Group)
2017 "Philia: Artists Rise Against Islamophobia" (Floating House Recordings)

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